SALUBA-Ê! NAVEGANDO NAS ÁGUAS TURVAS DE NANÃ BURUQUÊ!
Nanã Buruquê, é a mais velha divindade do Panteão dos Deuses Africanos, associada as águas paradas, à lama dos pântanos, ao lodo do fundo dos rios e dos mares e as águas da chuva. Orixá reverenciado como sendo divindade da vida e da morte pelo antigo Império de Daomé. Seu símbolo é o Íbiri – um feixe de ramos de folha de palmeira com a ponta curvada e enfeitada com búzios.
Dizem que quando Olorum encarregou Oxalá de fazer o mundo e modelar o ser humano, o Orixá tentou vários caminhos. Tentou fazer o homem de ar, como ele. Não deu certo, pois o homem logo se desvaneceu. Tentou fazer de pau, mas a criatura ficou dura. De pedra, mas ainda a tentativa foi pior. Fez de fogo e o homem se consumiu. Foi então que Nanã veio em seu socorro e deu a Oxalá a lama, o barro do fundo da lagoa. Assim, Oxalá cria o homem, do barro. Com o sopro de Olorum caminhou. Com a ajuda dos Orixás povoou a Terra. Mas tem um dia que o homem tem que morrer. O seu corpo tem que voltar a terra, ao barro. E assim ele volta para os braços de Nanã.
Nanã é representada como uma anciã, já que é considerada a avó dos orixás. Guardiã do Reino dos Eguns (mortos) e ancestrais, senta-se em um trono e de lá recebe os desencarnados, zela por eles e os devolve ao plano físico com o nascimento. Com o Ibiri na mão, adormece a memória dos que chegam do plano físico e os prepara para uma nova vida. Sábia, Nanã é a juíza da humanidade. A coruja, animal que representa sabedoria, pertence a ela. Ela era a deusa maior do camdomblé Jejê-Vodun, dos daomés.
E assim reinava, até que para roubar este poder, Oxalá a desposou. Porém não por amor e sim por cobiça e ambição ao reino que ela possuía, tal qual a ocupação do povo Iorubá nas terras dos Daomés. Então, Oxalá oferece uma poção, um feitiço para que Nanã se entregue ao seu amor. Por meses viveram felizes. Nanã dividiu seu reino com ele, mas proibiu a entrada no jardim dos Eguns.
Para obter a chave do Reino de Nanã, Oxalá a espiona, aprende o ritual da invocação dos mortos e depois se veste com as roupas dela e no jardim dos Eguns , ordena a todos, a partir daquele momento, obedeçam ao seu marido, ou seja, a ele, Oxalá. E a partir dali, Oxalá se torna senhor do mundo dos Eguns. Mas por amá-lo, Nanã o perdoa, afinal o filho daquele amor, nascerá.
Nanã então, dá a luz ao seu primeiro filho: Obaluaiê, também chamado de Omolu. Este nasce todo deformado, devido ao feitiço que foi colocado. Horrorizada, Nanã jogou-o ao mar para que morresse. Yemanjá, a segunda esposa de Oxalá então cuida do recém-nascido.
Apesar de tudo o que sofreu, o amor por Oxalá era muito grande e Nanã ainda se deixou fecundar por ele mais três vezes. Porém, quando Olorum também chamado de Orunmilá, soube da rejeição de Omulu, amaldiçõa a Yabá. A partir dali, todos os seus filhos nascerão deformados. Oxumaré nasce e durante seis meses é dos mais belos orixás, tal qual as cores do Arco-íris. Porém na outra parte do ano se transforma em cobra.
Depois nasce uma menina Yewá que da mesma forma que seu irmão Oxumaré, sofre o mesmo destino.
Por último nasce, Ossanhê, com uma só perna e consequentemente, também amaldiçoado.
Depois de abandonar seus filhos, um por um, é a vez de Oxalá, seguindo as ordens de Olorum, expulsá-la de seu reino. A Orixá recorre a Olorum, já sem o feitiço de Oxalá, informando que foi enganada por ele e pedindo perdão. Mas Olorum, acredita nas palavras de seu filho e a manda para o exílio, com seus súditos leais. Um lugar escuro e sombrio, qual um pântano.
Na lama, a Orixá, sem reino e sem poder, recomeça a sua caminhada. Navega em águas turvas, em busca de um novo lar. Acompanhada de seus súditos fiéis do antigo Império de Daomé, agora escravizados, nos tumbeiros, rumo ao novo mundo.
Nas casas das Minas, no Maranhão, ganha culto e devoção e fortalecida como Vodun, sonha com a volta ao lar.
Nanã, neste novo paraíso, assim como os Agudás , ganha a liberdade e retorna ao antigo Império Daomé, agora Benin. É hora de lutar e tomar de volta o que é seu por direito.
Primeiro, é necessário o pedido de perdão a seus filhos e assim visita Obaluaiê que vive no Reino de Yemanjá. Juntos, os dois rumam ao Jardim dos Eguns.
Com a união de seus outros três filhos, cinco forças, cinco tribos, cinco nações, reconquistam seu antigo reino e Nanã reina soberana e Oxalá, decide partir, evitando uma guerra com a Mãe de todos os Orixás.
As outras Yabás, deusas de terras distantes, reconhecem o poder de Nanã e as oferendas são trazidas para a nova soberana: Yemanjá traz Omolocum, Yansã traz sarapatel e Oxum traz o Efó. Inicia-se o reinado das Yabás, e finda-se a dominação patriarcal dos Orixás.
E assim, da noite escura, qual os eguns na morte e os negros na escravidão, Nanã vê uma nova manhã surgir. É o renascimento, uma nova era, uma nova vida que desponta com o cantar de um Galo.
E com as Bençãos de Nanã, com velas rosas e brancas, vestida de lilás, e de seu filho Obaluaiê, nosso guia e protetor, a Unidos da Paulicéia, traz a saga desta Yabá Guerreira, que nos guiará para a vitória e redenção. Afastando os vícios e todo o mal, nos guiando e conduzindo para a luz, liberdade e glória.