quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

GRESM. MARQUESA DO POMBAL - 2018 - 89° FESTIVAL - Grupo B

" Você sabe o que é Caviar?"

Você sabe o que é Caviar?
Iguaria tão fina só come barão.
Ele é encontrado no mar
São as ovas escuras do peixe esturjão.
E nem adianta procurar,
O Brasil não produz esta especiaria.
Do Salmão são ovas claras
Escurecidas por lulas.
Lábias da pirataria.

Reis de Brasília só comem assim
Champagne, Caviar, muito dindin.
E para o povo que nunca viu
Fome indigesta! Isto é Brasil!

É hora de mudar, melhor distribuir!
E deixe de esnobar! Pra que se exibir?
O povo não quer caviar,
Só quer o que lhe é direito:
Emprego, educação, respeito!

Relicário de beleza,
Prato fino da nobreza
É Marquesa do Pombal.
Distribua esta riqueza,
Paciência tem final!

segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

GRESM. UNIÃO DO CATIVANO - 2018 - 89° FESTIVAL

"Está escrito nas estrelas"

Ainda que negassem as estrelas,
Eu cruzaria o espaço para tê-las.
Porém, oh meu amor, somente vê-la
Me faz feliz.

O amanhã, a fascinar
Quem nunca tentou decifrar?
Enxergar e prever
Estórias que ainda vão acontecer?
Eu sonhei e me vi
Bastante feliz vendo em paz o meu país.

Vem cigana, ler a minha mão,
Põe cartas de Tarot
O búzio revelou segredos.
Encontrei na borra de café...
É profecia, é fé
E assim vou caminhar sem medo.

Delfos ditou, enlouquecido
Finda Édipo-Rei.
Quem nunca errou
Foi Nostradamos, como, eu não sei.
Cartomancia e é o mapa astral vai me guiar.
Em Patmos, o Salvador à João
Em visões revelará.

Como será o amanhã?
O que irá me acontecer?
Ver minha eacola ser tricampeã?
Vou me casar com você?
No bemmequer no malmequer
O nosso amor, ninguém vai impedir!
Está escrito nas estrelas.
Não adianta resistir!


GRESM. SAPODOURO SAMBA SHOW - 2018 - 89° FESTIVAL


“A FÊNIX QUE RENASCEU DAS CINZAS”(REEDIÇÃO DO 87° FESTIVAL)

Quem hoje chora, amanhã pode sorrir.
O galho seca mas a flor irá se abrir.
Cinzas virou, ressuscitou
mas poderosa Sapodouro Samba Show

Belém, Belém, Belém
mas um milagre aconteceu.
Na ressureição do Santo Mestre,
em glória, ao céu ele ascendeu.
A cultura negra esmigalhada.
Fez-se ressurgir em outra morada.

Sofrer a derrota é vital pro vencedor
e Hiroshima, seu exemplo espalhou.

Oh Rei Sol, a França irá clamar,
com a queda da Bastilha
o povo ressurgirá.
Liberdade e Igualdade,
esta chama se apagou.
Mas agora o fogo arde,
pois a Fênix voltou.

GRESM. GIGANTES - 2018 - 89° FESTIVAL


“TRÊS GIGANTES NO FESTIVAL”

Gigantes chegou,  é Santa efigênia.
Vem ver meu amor!
Minha estória é um poema.
Tudo começou quando um português,
batendo o bumbo a folia assim se fez.
Era sábado de carnaval,
O Zé Pereira em um cortejo original.
O meu primeiro gigante,
encanta a cidade.
Traz para o povo felicidade.

A benção do santo e de corpo fechado,
o meu medalhão,
em um terreiro abençoado.
E protegido, canto até raiar o dia,
avante Seu Malaquias!

Pelas ladeiras de Olinda,
descem entidades, pra alegria geral:
Menino da tarde, Mulher do meio-dia,
Capiba, grande gênio musical.
Mas o terceiro gigante,
que coroou nossa história,
É o Homem da Meia-Noite,
de verde e branco rumo a vitória.

Bate o bumbo lá vem, Zé Pereira.
Assim vou me acabar, na zoeira.
E Xambá vai levantar poeira.
Eu só quero parar na quarta-feira!
Nas ladeiras de Olinda eu vou,
Homem da Meia-Noite eu sou.
É a verde e branco, respeitem meu manto,
Gigantes chegou!

terça-feira, 27 de novembro de 2018

UNIDOS DA PAULICÉIA 2019 - SINOPSE


SALUBA-Ê! NAVEGANDO NAS ÁGUAS TURVAS DE NANÃ BURUQUÊ!

    Nanã Buruquê, é a mais velha divindade do Panteão dos Deuses Africanos, associada as águas paradas, à lama dos pântanos, ao lodo do fundo dos rios e dos mares e as águas da chuva. Orixá reverenciado como sendo divindade da vida e da morte pelo antigo Império de Daomé. Seu símbolo é o Íbiri – um feixe de ramos de folha de palmeira com a ponta curvada e enfeitada com búzios.
  Dizem que quando Olorum encarregou Oxalá de fazer o mundo e modelar o ser humano, o Orixá tentou vários caminhos. Tentou fazer o homem de ar, como ele. Não deu certo, pois o homem logo se desvaneceu. Tentou fazer de pau, mas a criatura ficou dura. De pedra, mas ainda a tentativa foi pior. Fez de fogo e o homem se consumiu. Foi então que Nanã veio em seu socorro e deu a Oxalá a lama, o barro do fundo da lagoa. Assim, Oxalá cria o homem, do barro. Com o sopro de Olorum caminhou. Com a ajuda dos Orixás povoou a Terra. Mas tem um dia que o homem tem que morrer. O seu corpo tem que voltar a terra, ao barro. E assim ele volta para os braços de Nanã.
   Nanã é representada como uma anciã, já que é considerada a avó dos orixás. Guardiã do Reino dos Eguns (mortos) e ancestrais, senta-se em um trono e de lá recebe os desencarnados, zela por eles e os devolve ao plano físico com o nascimento. Com o Ibiri na mão, adormece a memória dos que chegam do plano físico e os prepara para uma nova vida. Sábia, Nanã é a juíza da humanidade. A coruja, animal que representa sabedoria, pertence a ela. Ela era a deusa maior do camdomblé Jejê-Vodun, dos daomés.
   E assim reinava, até que para roubar este poder, Oxalá a desposou. Porém não por amor e sim por cobiça e ambição ao reino que ela possuía, tal qual a ocupação do povo Iorubá nas terras dos Daomés. Então, Oxalá oferece uma poção, um feitiço para que Nanã se entregue ao seu amor. Por meses viveram felizes. Nanã dividiu seu reino com ele, mas proibiu a entrada no jardim dos Eguns.
   Para obter a chave do Reino de Nanã, Oxalá a espiona, aprende o ritual da invocação dos mortos e depois se veste com as roupas dela e no jardim dos Eguns , ordena a todos, a partir daquele momento, obedeçam ao seu marido, ou seja, a ele, Oxalá. E a partir dali, Oxalá se torna senhor do mundo dos Eguns. Mas por amá-lo, Nanã o perdoa, afinal o filho daquele amor, nascerá.
   Nanã então, dá a luz ao seu primeiro filho: Obaluaiê, também chamado de Omolu. Este nasce todo deformado, devido ao feitiço que foi colocado. Horrorizada, Nanã jogou-o ao mar para que morresse. Yemanjá, a segunda esposa de Oxalá então cuida do recém-nascido.
     Apesar de tudo o que sofreu, o amor por Oxalá era muito grande e Nanã ainda se deixou fecundar por ele mais três vezes. Porém, quando Olorum também chamado de Orunmilá, soube da rejeição de Omulu, amaldiçõa a Yabá. A partir dali, todos os seus filhos nascerão deformados. Oxumaré nasce e durante seis meses é dos mais belos orixás, tal qual as cores do Arco-íris. Porém na outra parte do ano se transforma em cobra. 
    Depois nasce uma menina Yewá que da mesma forma que seu irmão Oxumaré, sofre o mesmo destino.
      Por último nasce, Ossanhê, com uma só perna e consequentemente, também amaldiçoado.
     Depois de abandonar seus filhos, um por um, é a vez de Oxalá, seguindo as ordens de Olorum, expulsá-la de seu reino. A Orixá recorre a Olorum, já sem o feitiço de Oxalá, informando que foi enganada por ele e pedindo perdão. Mas Olorum, acredita nas palavras de seu filho e a manda para o exílio, com seus súditos leais. Um lugar escuro e sombrio, qual um pântano.
    Na lama, a Orixá, sem reino e sem poder, recomeça a sua caminhada. Navega em águas turvas, em busca de um novo lar. Acompanhada de seus súditos fiéis do antigo Império de Daomé, agora escravizados, nos tumbeiros, rumo ao novo mundo.
    Nas casas das Minas, no Maranhão, ganha culto e devoção e fortalecida como Vodun, sonha com a volta ao lar. 
     Nanã, neste novo paraíso, assim como os Agudás , ganha a liberdade e retorna ao antigo Império Daomé, agora Benin. É hora de lutar e tomar de volta o que é seu por direito.
    Primeiro, é necessário o pedido de perdão a seus filhos e assim visita Obaluaiê que vive no Reino de Yemanjá. Juntos, os dois rumam ao Jardim dos Eguns.
     Com a união de seus outros três filhos, cinco forças, cinco tribos, cinco nações,  reconquistam seu antigo reino e Nanã reina soberana e Oxalá, decide partir, evitando uma guerra com a Mãe de todos os Orixás.
  As outras Yabás, deusas de terras distantes, reconhecem o poder de Nanã e as oferendas são trazidas para a nova soberana: Yemanjá traz Omolocum, Yansã traz sarapatel e Oxum traz o Efó. Inicia-se o reinado das Yabás, e finda-se a dominação patriarcal dos Orixás.
      E assim, da noite escura, qual os eguns na morte e os negros na escravidão, Nanã vê uma nova manhã surgir. É o renascimento, uma nova era, uma nova vida que desponta com o cantar de um Galo.
   E com as Bençãos de Nanã, com velas rosas e brancas, vestida de lilás, e de seu filho Obaluaiê, nosso guia e protetor, a Unidos da Paulicéia, traz a saga desta Yabá Guerreira, que nos guiará para a vitória e redenção. Afastando os vícios e todo o mal, nos guiando e conduzindo para a luz, liberdade e glória.

  














quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Logun Edê, abençoe o meu Pavão



Canta, Bodas de Ouro!
És meu tesouro, és minha vida!
Nesse Jubileu de Prata
com meu Pavão, sacudindo a avenida.

Vinda do Pacaembu,
Sampa viu seu florescer.
Vestida de Laranja e Azul
O manto de Logun Edê.
Samba agora em Ouro Preto,
Olinda o seu novo chão.

Filho de Oxóssi e Oxum,
Valei Logun por meu Pavão!

terça-feira, 28 de agosto de 2018

Igual a mim mais ninguém

Igual a mim mais ninguém!
Teu coração sabe bem,
nem tente negar!
A majestade chegou,
vem pra avenida, amor!
Sou eu Falcão e o show vai começar.

Recife cantando em mais um entardecer...
Sampa, eu jamais vou te esquecer.
Na Mooca despertei,
Pra um sonho imperial
Voei e conquistei o Carnaval.

Treze festivais, não esqueço jamais
Meu nome alcançou honra e glória.
Kaô Kabelice! Xangô meu pai!
Guiai-me para mais uma Vitória!
Louco apaixonado é meu torcedor,
Maluco, irreverente e sonhador.
E o amor é incondicional
Por mim, linda Falcão Imperial.


Sou Eu

Vem cantar meu Recife,
Zona Norte o meu novo lar!
Saudade do Alto da Mooca
que viu o meu desabroxar.
O samba hoje esta em festa,
é de prata o meu Jubileu.
Vinte cinco anos de história
Sai da Frente, Fabulosa sou eu.

Sou eu, sou eu, sou eu!
A alegria que enriquece o carnaval.
Sou eu, sou eu, sou eu!
A Raça e a garra do festival.
Sou eu, sou eu, sou eu
de Verde e Branco, o canto da Encruzilhada
Sou Bafo do Tatu, Osanhê, Okê Arô!
Nos proteja nessa jornada.

quinta-feira, 17 de maio de 2018

Dezesseis paixões que embalaram o primeiro festival - Jubileu de Prata: 25 anos das Escolas de Samba de Maquete da GRESA

      

       Como começou essa amizade, não sei. Só sei que o Colégio Plínio Barreto, no bairro da Mooca, ficou mais interessante. Em março de 1993 tivemos um concurso de músicas e entre os gêneros estava o do Samba Enredo. Claro que participei. E descobri assim outros alunos que também amavam esse mundo. Compartilhei com eles minhas ideias e quatro ficaram interessados em fazer parte de nossa disputa. Era o Átila, o Fausto, a Priscila e a Fernanda. A Denise, minha vizinha já sabia da nossa invenção e então nos ajudou a espalhar a novidade.
     No dia 30 de março, um menino chamado Leonardo, me pediu para fazer o estandarte de sua escola. Em casa desenhamos juntos e estava fundada a Unidos da Pauliceia. Mostramos como se faziam os bonecos de papel e assim espalhamos para os interessados em participar no nosso Carnaval. O sonho parecia ter morrido por alguns meses mas no meio de agosto resolvemos colocar em prática nossa paixão. O meu primo Fernando e eu, pensamos em criar outra escola. Já tínhamos os bonecos prontos e então era só fazer o enredo e o samba para o desfile.
       Mas o problema foram as cores. Ele queria Verde e Branco de novo e eu queria as cores da minha Salgueiro. Então chegamos a um impasse. E decidimos cada um criar a própria escola. Assim, no fim da tarde do dia 28 de agosto nasceu a Bafo do Tatu e a noite foi a vez da Falcão Imperial, vermelha e branca tal qual a escola da Tijuca.
       Tínhamos então até aquele momento cinco escolas. Convencemos os nossos vizinhos a cada um, criar uma escola. Assim seriam sete e já estaria de bom tamanho o desfile.
        Me escolheram como o compositor dos sambas. Porque eles achavam que eu era o único que sabia compor. Já tinha feito os sambas da Sapodouro, da Mooca, Pauliceia, Falcão e Bafo. Denise criou a Bodas de Prata e o seu irmão Lucas no dia seguinte criou a Engenho do Rei. 
Nesse mesmo dia, forçamos nossos amigos a decidir se iam participar ou não. Reunidos no pátio da escola, com cadernos e canetas criamos juntos as escolas que faltavam para completar o Carnaval. 
Priscila criou a Imperador da Ponte, já que ela morava na Zona Norte de São Paulo. A Armênia foi criada por Átila, vizinho dela e como eram namorados de infância até as cores escolhidas foram iguais. Já tínhamos a Imperador da Ponte, Azul e Branca. O convencemos a mudar o tom. Por isso a Armênia usa o Azul escuro na bandeira. Fausto criou a Unidos de São Luiz. Ele era de Florianópolis e morava no Jardim São Luiz, zona sul de São Paulo. Por isso o nome. Já as cores e o símbolo vêm do Criciúma, seu clube de coração. Fernanda criou a União de São Joaquim, seguindo o pensamento de Fausto. Ela morava no bairro de mesmo nome e como não tinha time, sugerimos as cores do Brasil. Ela decidiu pelo Verde e Amarelo. Um menino chamado José, queria participar e criou a Imperador de Bauru. Era de onde ele tinha vindo e as cores eram o Verde e o Vermelho. A gente chamava ele de Gamurrinho, por causa de um poema que leu em sala de aula. Ali mesmo foram escolhidos os temas e no dia seguinte o 31 criei os sete sambas que faltavam.
      Mas tínhamos um problema. Os meninos não queriam que nem a Mooca ou a Sapodouro participassem pois já estávamos com uma escola cada. Concordamos mas não queríamos abrir mão de nossas primeiras invenções. Entao decidimos fazer o desfile principal mais um de acesso. Assim, quem caísse assumia a direção das que subiam. Mas só duas escolas no acesso não daria certo. Quatro era melhor. Assim duas subiam e duas desciam. Átila e Priscila criaram a Vera Cruz e a Império de Cristal. Escolheram o bairro do Glicério para as escolas. E Fausto criou a União Sambista e Fernanda a Monte Azul. 
       Os bairros tinham que ser diferentes para que todas as regiões estivessem presentes. Decidimos que a Bodas seria do Pacaembu, por que era perto da Barra Funda ( Camisa Verde e Branco) e a Sambista do Bexiga ( Vai-Vai). Para não termos só uma escola de fora, a Monte Azul representaria Osasco. A Engenho seria de Santana.
          No final, tínhamos duas escolas fora da capital, cinco da Zona Leste, três da Zona Norte, três da Zona Sul, uma da Zona Oeste e duas do Centro. 
Estava formado o primeiro FESTIVAL. Dez no grupo especial e seis no grupo acesso. As escolas que subissem seriam dirigidas por quem desceu. E na maior parte das vezes até hoje é assim.
          Nos dias 1 e 2 de setembro compus os sambas restantes. E na sexta e sábado a tarde, fizemos o primeiro desfile. Quem não tinha boneco, pegou emprestado com a gente. A partir dali, nós faríamos toda a indumentária das escolas seguindo o que os responsáveis queriam. A escolha de enredo era deles e o projeto também. Mas a gente, da Mooca é que confeccionaria a base das escolas. Foi muito bom aquele momento.               Nascia ali um projeto que já dura vinte cinco anos. E se hoje, eles estão afastados desse mundo, as entidades que criaram estão presentes. Outros responsáveis, outros presidentes, mas a essência jamais se perderá.


Campeã do 1° Festival 
- SETEMBRO de 1993 -

quarta-feira, 16 de maio de 2018

Infância Precoce ou as Noites Insones embaladas pelo Samba. - Jubileu de Prata: 25 anos das Escolas de Samba de Maquete da GRESA




A primeira memória que me lembro é do berço. Era noite e eu chorava. E nada que minha mãe fazia conseguia me acalmar. Não era fome. Não estava me sentindo só e nem tinha necessidades de ser limpo. Era noite de Carnaval. Como eu poderia dormir se algo que ouvia da televisão me chamava?  

Depois de inúmeras tentativas frustradas para eu voltar a adormecer,  meus pais decidiram me levar pra sala até eu novamente pegar no solo. Contou-me anos mais tarde a minha mãe, que eu fiquei sentado na frente de uma televisão mal sintonizada e quase em preto e branco assistindo ao meu primeiro desfile de escola de samba. Não saberia dizer qual escola tinha me acordado. Mas gosto de imaginar que tenha sido o Salgueiro ao som de Skindô, Skindô. 

Não dormi mais aquela noite e durante as noites de Carnaval, algo que raramente fiz, foi deixar de acompanhar um desfile( cochilei em três, faltou luz em um dia, passei mal em dois desfiles e fiz outras coisas em quatro outros). Lembro-me de ver o desfile da Portela em 85 e assim aprendi a não brincar com fogo, para não me queimar. A Águia me enfeitiçou ( até hoje ela me encanta), claro que por uma paixão herdada de minha mãe. 

Cresci portelense mas quando amadureci me vi Salgueiro. Claro que morando em São Paulo só poderia torcer para uma escola: Camisa Verde e Branco. Lembro-me de ver a Barra Funda cantando de manhã, dando boa noite à São Paulo e com Samdolar finalmente vencendo o tri da Vai Vai (odiava aquela escola, hoje a admiro muito). Claro que lembro dos grandes desfiles da Peruche, uma fraca Nenê, a Barroca forte, Rosas com Paulo Machado, Leandro surgindo e a Mocidade Alegre que não me encantava assim como no Rio a Beija-flor e a Tijuca. Falando na cidade maravilhosa, adorei o Ti-ti-ti da Estácio, a Bandeira Branca da Imperatriz, a voz de Ney Vianna da Mocidade e sua bateria, Vila e Martinho. A União com o porre de felicidade, uma Império fraca mas ainda especial, desfiles irreverentes da Caprichosos e claro, como todo filho de portelense, tinha que não gostar da Mangueira e ficar quieto na passagem do Salgueiro, sem saber que já estava apaixonado. 

Aguardava ansioso os meses de outubro e novembro, para ganhar de meu pai, um LP ou a fita cassete para escutar e aprender os sambas. Sintonizava as rádios que tocavam pagodes e com uma fita virgem gravava os sambas de enredo. Já sabia de história do Brasil e aos sete ainda não tinha pisado na escola. 

A década virou e com ela uma mudança. Deixei minha casa na Rua Miguel de Guevara, 103 no Diadema para conhecer o bairro da Mooca, na Rua Voltolino ,13. A mudança deu-se pela perda de minha bisavó. Meus pais e minha avó, também estavam preocupados com a violência da Zona Sul de São Paulo e por isso tudo nos mudamos. Vi Mocidade ser bi-campeã e minha Camisa cada vez mais forte. Mas 1991 foi um ano muito importante. Foi um desfile de São Paulo maravilhoso e um ano onde o Rio estava incrível. Chuê-chuá, Didi um poeta, o Alô, alô da Caprichosos e claro que lembro de ajudar a limpar a casa com minha mãe com uma Portela muito vaidosa. Mas na madrugada de Carnaval, meu coração se deixou levar por uma Rua . Era a Ouvidor nas cores vermelha e Branca do Salgueiro. A Mocidade levantou, mas o que me marcou foi ela. Pedi desculpas a minha mãe e declarei meu amor eterno. 

Aí para que esperar o Carnaval? Eu durante as madrugadas fingia estar na avenida e ia lembrando dos desfiles que vivi e aqueles outros que não assisti, mas que eu conheci através dos Lps. Meu quintal era grande, então era perfeito para cantar e dançar. Assim eu era mestre sala, porta bandeira, bateria, puxador, destaque, empurrador de carro, arquibancada e alegoria. Era tudo dentro da imaginação. Lembro que a última noite de minha avó foi rindo de um de meus inúmeros desfiles. 

Mas em 1992, com meu primo vindo morar conosco, a ideia de fazer a própria escola surgiu. 

Foi um fim de ano maravilhoso, porque o cassete do Rio de Janeiro trazia músicas antológicas e São Paulo devido ao roubo do início do ano vinha com dois Lps. Além do Especial vinha o do grupo de Acesso. E eu que assistira a Cnt com o desfile do grupo acesso de 1992, agora teria quatro dias para acompanhar as escolas. Imaginei como seriam os desfiles e até que próximo ao Natal tivemos a ideia, meu primo e eu, de criar a nossa própria. 

Primeiro o nome. Morávamos na Mooca então Unidos seria perfeito. As cores é que deram problema. Mas como eu gostava da Camisa e ele da Mocidade Independente, então verde e branco era a escolha mais certa. Assim nasceu a Unidos da Mooca, em 22 de dezembro de 1992. 

Nossos vizinhos da casa da frente, gostaram de nos ver criando a escola. Era de papel. Não tínhamos acesso a estes bonecos de maquete, então tínhamos que criar do papel mesmo. Denise queria fazer isso também e me lembro que brincando na casa dela no dia 01 de janeiro de 1993, vimos um sapo que ela tinha ganho que abria e fechava a boca. Ela e o irmão deram o nome de Sapodouro. Lucas escolheu as cores vermelha e amarela. Marcamos o dia do desfile e preparamos a nossa escola e eles a deles. Foi na quinta feira e como eles usariam bonecos de brinquedo, usamos todos os nossos Playmobils e bonecos de guerra para montar as alas. A música da Mooca foi uma que a Eliana de Lima cantava. E a Sapodouro usou o da Viradouro de 1992. 

Não teve vencedor. Foi apenas diversão. Foi a nossa base de Carnaval. Um dia depois estávamos assistindo na Cnt o primeiro dia do grupo de acesso do Rio. Mas estávamos pensando em algo maior. Estávamos pensando em fazer um Carnaval nosso, mas teriam que ter regras e material específico. Falamos sobre utilizar papel enquanto víamos a Cubango desfilando. 

Saudade destes velhos tempos. Quando toda nossa preocupação eram as tarefas de casa, as provas e agora a data do primeiro desfile.